O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, procurou, por intermédio de sua assessoria, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, para negociar, diante da ameaça dos Estados Unidos de aplicar sobretaxa de 50% sobre produtos importados do Brasil.
Em resposta, a equipe de Bessent informou, no entanto, que o caso brasileiro está a cargo da Casa Branca. Com isso, os canais formais de negociação entre o governo brasileiro e o americano seguem fechados.
Segundo relato feito pelo próprio Haddad a integrantes do governo Lula, essa iniciativa da Fazenda aconteceu na segunda-feira (21).
Na noite desta quarta-feira (23), Haddad disse a jornalistas estar em contato com a equipe técnica do Tesouro americano. “Nós estamos fazendo tentativas de contatos reiterados, mas há uma concentração de informações na própria Casa Branca em relação a esse tema”, afirmou.
Na semana anterior, o vice-presidente Geraldo Alckmin também buscou interlocução com a Secretaria de Comércio americano, tendo conversado diretamente com o secretário Howard Lutnick. Obteve semelhante resposta.
Os americanos sinalizaram ao governo Lula (PT) que as tratativas só devem caminhar a partir de uma autorização do presidente Donald Trump para a abertura de canal oficial de diálogo. Integrantes do Palácio do Planalto dizem ter a informação de que não há previsão de uma resposta às iniciativas do governo brasileiro.
Haddad não descartou a possibilidade de um acordo com os americanos antes de 1º de agosto, mas ressaltou que é preciso sentar à mesa para que haja algum avanço. “Não dá para antecipar um movimento que não depende só de nós. […] O Brasil nunca saiu da mesa de negociação. Em nenhum momento nós abrimos mão de conversar, mas para ter um acordo precisa ter vontade recíproca”, disse.
O ministro destacou que estão ocorrendo rodadas de negociações com outros países, citando a movimentação de União Europeia, Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã. “Vai chegar a vez do Brasil. E nós temos que estar preparados para quando sentarmos à mesa, nós temos que expor o nosso ponto de vista com base técnica. […] Não queremos um debate que fuja à racionalidade”, disse.
A reportagem procurou a Casa Branca para saber o estado das negociações, mas não obteve resposta até a noite desta quarta (23).
No entanto, com o o diálogo interditado nos canais formais, integrantes do governo começam a duvidar de um desfecho a tempo hábil de reverter a aplicação da sobretaxa em 1º de agosto.
Um dos temores é que o decreto do governo Trump só seja decretado às vésperas do prazo, sem que as autoridades brasileiras tenham tempo de se debruçar sobre as exigências americanas ou mesmo recorrer à Justiça.
Enquanto isso, autoridades brasileiras procuram estabelecer contatos extraoficiais com a equipe dos seus correspondentes nos Estados Unidos. Isso se deve justamente à dificuldade relatada por ministros de se comunicar diretamente com seus homólogos nos EUA.
Nas conversas informais mantidas com os EUA, o governo brasileiro tem admitido a possibilidade de negociação sobre questões comerciais, como o caso do etanol, mas reafirmado que a soberania brasileira não está à mesa.
Folha de S.Paulo